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O não negacionismo do líder do agro que não resiste à página 2

  • ucivaldomatias
  • 21 de mar.
  • 3 min de leitura
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Líder do agronegócio admite mudanças climáticas, mas minimiza ação: “Impossível mudar nosso formato de energia”


Em uma entrevista ao Jornal do Comércio publicada no dia 10 de março, o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, admitiu ter mudado sua visão sobre as mudanças climáticas, mas logo em seguida relativizou a necessidade de ação para conter seus efeitos.


A declaração veio em meio a uma crise climática severa que afetou a agropecuária brasileira em 2024, resultando em uma queda de 3,2% no setor em comparação ao ano anterior.


“Eu era negacionista sobre as mudanças climáticas, mas hoje não sou mais. Acho que realmente mudou.


Agora nós temos que mitigar os efeitos. Nós realmente estamos vivendo uma mudança climática”, afirmou Pereira, em entrevista concedida durante a cobertura especial sobre a feira do agronegócio gaúcho, Expodireto Cotrijal.


Apesar da admissão, Pereira rapidamente minimizou a necessidade de mudanças profundas para combater o aquecimento global: “Se nós podemos interferir nela ou não, é outra conversa.


Quanto a isso eu sou bastante cético: nós humanos, para mexer em mudança climática, temos que voltar quase que para a idade das cavernas. O automóvel não ia poder circular mais, o ônibus, nem o caminhão, nem o trator.


É impossível. Teria que mudar todo o nosso formato de energia.”

O posicionamento contraditório reflete uma postura recorrente entre lideranças do setor agropecuário: admitir a realidade das mudanças climáticas, mas colocar o setor como vítima, cuja solução seria aumentar a irrigação e flexibilizar a legislação ambiental.


Pereira reforçou essa visão ao criticar processos de licenciamento ambiental para irrigação, o Código Florestal e ambientalistas:

“Eu sou agricultor e pecuarista, e água é riqueza, é vida.


Na minha propriedade, observo a quantidade de água que tenho e o enriquecimento da fauna que se beneficia do aumento da água, além das plantas. Se tem irrigação, aumenta a base alimentar, e quando ela aumenta, os animais aparecem para se alimentar.


Tu enriqueces o meio ambiente. Eu não sei por que esses ambientalistas travam tanto esse tipo de desenvolvimento, é uma questão absurda”, declarou.


Pereira também argumentou que a orizicultura, tradicional cultivo de arroz no estado, se desenvolveu sem licenciamento ambiental, mas que a legislação atual teria travado o desenvolvimento do setor:

“Hoje não temos mais essa liberdade, então, a irrigação vai a passo de tartaruga.”


A postura de Pereira contradiz alertas científicos que apontam a superexploração de recursos hídricos como uma das principais ameaças ao setor agropecuário e ao meio ambiente.


Estudos, como os publicados pela Agência Fapesp em fevereiro, mostram que a irrigação intensiva compromete a vazão dos rios brasileiros, como o São Francisco, e que mais de 88% dos poços tubulares no Brasil operam ilegalmente, bombeando cerca de 17,6 bilhões de metros cúbicos de água por ano.


Além disso, a agropecuária é um dos principais emissores de gases de efeito estufa no Brasil, sendo o setor responsável por grande parte do desmatamento na Amazônia, que ocorre, em grande parte, para expansão das atividades agropecuárias.


Especialistas alertam que a expansão da irrigação não resolverá o problema climático se as emissões de carbono não forem reduzidas. Pereira, contudo, parece ignorar essas evidências em sua defesa do setor.


A entrevista evidencia um padrão preocupante no agronegócio: reconhecer a realidade das mudanças climáticas, mas evitar qualquer responsabilidade e insistir na expansão das práticas atuais como única solução.


Essa postura, alertam especialistas, pode comprometer ainda mais o setor diante das crises climáticas que já afetam a produção agrícola brasileira.


Para entender melhor os impactos das mudanças climáticas na segurança alimentar, confira o episódio desta semana do videocast Bom Dia, Fim do Mundo.

 
 
 

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